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A Neta da Luísa

A Neta da Luísa chama-se Bárbara. Tem 23 anos e um gosto incalculável pela escrita, moda, lifestyle e beleza. Não é uma expert em nenhum dos assuntos, mas tem uma paixão imensa por todos eles.

A Neta da Luísa

Finalmente de volta a casa, avô

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 As salas de espera dos hospitais são dos sítios mais angustiantes que conheço. Para além do sofrimento pessoal, causado pela ânsia de saber informações, vivemos as dores de todos os outros que por ali andam: 

 
os sem-abrigo que aproveitam as cadeiras de ferro, duras e desconfortáveis, para, em cima de roupas velhas e sujas, passarem as suas noites; os familiares que, nervosamente, esperam notícias daqueles que, por destino, azar, karma ou infelicidade deram entrada nas urgências; as pessoas que vão recebendo notícias trágicas e desfazem-se em lágrimas, partindo o coração de todos os ali presentes; e até mesmo aqueles que, na tentativa de afastar a sua mente das hipóteses mais negativas apresentadas pelos médicos, se vão distraindo a ver o jogo de futebol que dá na TV. 
 
Odeio salas de espera, por si só. Odeio ainda mais salas de espera de hospitais. O meu ódio duplica quando nas salas de espera estou à espera... de ti.
 
Pensávamos que era um dia normal. Um Sábado normal. Um Fim de semana com jogo da seleção, que irias ver freneticamente. O pai tinha acabado de sair e eu preparava-me para fazer o mesmo. A mãe chamou-te para lanchar e, prontamente, respondeste já vou. Mas não vieste. Aliás, nem lanchaste.
Fomos dar contigo completamente desorientado, a dizer coisas sem sentido que, para nós, se tornavam de difícil percepção. Algo não estava bem. Não sabias onde estavas, quem éramos, o que éramos. 
 
E mesmo que possa ser momentâneo, a sensação de alguém que amamos não nos reconhecer é das mais destrutivas que alguma vez conheci. É a (errada) sensação de nos teres esquecido. Mas até isto é uma lição: aqui, há uma diferença imensa entre não lembrar e esquecer. Não te lembras dos nossos nomes, mas sabes que te pertencemos, e que estamos unidos pelos laços do amor. Não nos esqueceste - apenas não consegues chegar ás palavras certas para nos lembrares disso: que não nos esqueceste.
 
Chamei o INEM - e parece sempre que ele demora tanto a chegar: estas alturas provam-nos o quanto o tempo é um factor relativo e facilmente visualizado de forma distinta, conforme o nosso estado de espírito e ansiedade com que vivenciamos as situações.
 
 Fomos para o hospital e muitas horas se seguiram... Ainda sem exames, os paramédicos apresentaram a possibilidade de um AVC que estaria a afectar parte do cérebro, mas que poderia passar rapidamente. 
 
Felizmente, tudo não passou de um susto e hoje, 11 dias depois, já acordaste, finalmente, na tua cama, na nossa casa. E o conforto que isso traz ao coração não tem explicação possível. O alívio de te ter por perto não descrição possível. Quanto a mim, vou fazer o que estiver ao meu alcance por te sentires o melhor possível e por teres o conforto que toda a gente merece. Vou tentar dar o melhor de mim, mesmo que nem sempre o tenha feito. Tentar acompanhar-te sempre que posso e tentar nunca te falhar com nada e, mais dificil e importante de tudo, tentar ter a paciência que, até hoje nunca tive.
 
Põe-te bom. Nem te peço que seja depressa, porque ambos sabemos o quanto o tempo é incerto na recuperação. Mas põe-te bom. Por ti e por nós, para ralhar contigo por tudo e por nada, por teres a televisão literalmente aos berros, por deturpares tudo o que ouves, por te meteres em todas as conversas e por teres um feitio tão complicado que ás vezes esgota a paciência até a um Santo. 
 
Mas é assim que nós sabemos viver: estando em constantes arrufos um com o outro. Mas até mesmo  viver assim, é infinitas vezes melhor que viver sem ti.
 
Por isso não te esqueças de recuperar depressa.
Porque uma coisa é não nos entendermos na maioria das vezes. Outra, é nem nos podermos desentender de todo.