19, o dia que te fez eterna.
Dizem que o tempo ajuda a fechar os golpes mais profundos que, um dia, a vida cravou na nossa pele. Acredito que, com o tempo, ele se vão tornando cada vez mais pequenos, mas não creio que algum dia cheguem a fechar por completo. Pelo menos o buraco que ficou em mim no dia em que partiste não fechou ainda. Tem vindo a ficar mais pequeno, mas nunca desapareceu. Acho que nunca desaparecerá - porque tu também não, assim como a tristeza que deixaste em mim no dia em que te foste embora.
Ultimamente, tenho sentido saudades. Mais saudades do que o normal - talvez porque o tempo não tem estado tanto do meu lado como sempre me quiseram fazer acreditar que estaria. Ele pode ajudar-me a viver a saudade de uma forma diferente, mas jamais fará com que deixe de a viver. Nunca o tempo, as horas, os dias, os meses ou os anos matarão este sentimento de solidão que vive em mim desde que te foste. Pelo contrário - é mesmo esse, esse que costumam dizer que cura todos os males - que faz sobreviver esta dor que deixaste na minha alma desde que um outro mundo te aliciou a ires até ele.
Pergunto-me se algum dia vou conseguir controlar a vontade de ainda te ter aqui. Acho que não, tenho a certeza que não. Duvido muito que algum dia possamos parar de desejar ter por perto quem mais amamos na vida.
Se é verdade a versão da vida de que esta, que aqui vivemos, é apenas uma passagem para uma permanência eterna em determinado lugar, então que esse lugar seja perto de ti. E por muito que ame a vida, mesmo que nem sempre a saiba viver da melhor forma possível, mesmo que ame todos os que me prendem a este mundo e que tema o dia em que também eu abandonarei esta casa, há dias que anseio tanto, mas tanto, poder voltar a ver-te. Aliás, não só a ver-te, mas a ouvir-te (resmungona, como sempre), a estar contigo, a ir contigo às consultas, aos correios, ao Pingo Doce, a ir lanchar à pastelaria ou almoçar a tua casa depois de vir da faculdade... A ter-te por perto. Se fosse agora, não teria esse perto como tão garantido como o tinha até ao dia em que a morte te arrancou de mim - nada a fazia prever e talvez por isso eu tentasse ignorar o facto que um dia, mais cedo ou mais tarde, ela chegaria. A nossa última conversa é mesmo a prova viva de que não tencionava despedir-me de ti - "discutimos" porque, ainda não sei bem como, tu já sabias que eu tinha um namorado. E eu, zangada, porque (ainda) não era suposto essa informação ter chegado até ti (não por te querer esconder algo mas por estar certa de que me irias bombaredear com perguntas (de onde é, quem são os pais, o que faz, como se conheceram) )... Isto, depois de me pedires para to apresentar, é claro!
Se soubesses o quanto agora me arrependo de não to ter dado a conhecer logo nesse dia, imediatamente nessa hora... Assim eu, neste momento, teria a certeza que terias partido orgulhosa da minha escolha, descansada pelo homem fantástico que tenho na vida e apaixonada pelo meu próprio amor. Mas o dia em que fechaste os olhos ninguém previu e, como tal, muito ficou por dizer. Mas hoje acredito que também não era preciso. Hoje, tu também sabes tudo, como naquele dia já sabias que eu namorava. Mais do que saber, hoje tu vês. E mais do que ver, tu guias e guardas.
Pelo menos, sempre me disseram que é isso que os anjos fazem.
Avó, amo-te daqui até aí. E mais um mulhão de vezes.