Irracional sou eu, que te amo tanto.
Desde sempre que me lembro de ter animais em casa. Sempre fizeram parte do lar e, acima de tudo, da nossa família. O meu pai é louco por animais e, como se não bastasse, espandiu essa loucura a todos nós. Não me lembro de ter tido, alguma vez, a casa vazia de cães, da mesma forma que não me lembro de não ter tido gatos a passearem-se pelo jardim. Admito que é um amor que vai crescendo, e que aumenta com a intensidade da convivência que temos com eles. Mas paralelamente, é uma dor imensa quando partem e levam consigo um pedacinho do nosso coração. No entanto, é uma dor que compensa, porque nenhum dia triste apaga a beleza de uma amizade tão pura, verdadeira e genuína como aquela que se tem com um cão... ou, no caso da nossa casa, com um gato (subentenda-se gatos). Há quem diga que os animais não pensam, mas eu digo que eles fazem o mais importante: sentem - sentem as nossas dores, a nossa tristeza, a nossa angústia... Da mesma forma que celebram a nossa alegria e partilham da nossa felicidade. Ter um animal de estimação é ter a certeza e o conforto de nunca estarmos sós e termos alguém que nos recebe todos os dias com o mesmo amor e entusiasmo de sempre. É saber que estamos no coração de alguém que nos será sempre e completamente fiel. E há alguma sensação melhor do que termos a certeza que somos amados e protegidos por alguém com quem partilhamos a vida? O Tobby entrou na nossa vida um bocadinho por acaso - fomos buscá-lo para casa da minha avó uns dois anos antes dela falecer. Com a mudança drástica que este acontecimento implicou nas nossas vidas, o Tobby veio viver connosco - e tornar o nosso coração um pouco mais dócil e preenchido. Tal como as pessoas, os animais mudam e transformam-se na medida do amor que lhes é dado e a prova disso foi ele. O Tobby partilhava o canil com a Luana, uma husky, até ela falecer, este Verão. Destabilizado com a perda, não foi capaz de ficar sozinho no canil e aos poucos, lá o fomos trazendo para o jardim para estar mais perto de nós - e nunca mais ninguém o conseguiu fazer voltar à origem - (felizmente!). O Tobby é hoje, um animal diferente, motivado pelo convívio e pela proximidade que tem connosco. Tornou-se mais dócil, mais educado e menos resmungão - fatos confirmados pela veterinária! É, hoje, um cão que nos respeita e, acima de tudo, nos adora. Espera por nós no portão ao fim do dia e fica à porta da cozinha enquanto vê luz, até que todos se vão deitar. Corre de alegria quando lhe abrem a porta, e vai direitinho instalar-se no sofá da sala, onde nem ladra nem se mexe, não vá alguém dar pela sua presença e levá-lo à rua. Infelizmente, não o podemos ter permanentemente dentro de casa, visto que nunca foi educado a fazer as necessidades a horas específicas ou em sítios próprios. Mas, de vez em quando, lá abrimos uma excepção e o deixamos usufruir do conforto do interior da nossa casa - e não há sentimento de maior gratidão do que aquele que ele demonstra com a sua postura quieta e meiga. O Tobby é o típico animal que deita o focinho nas nossas pernas quando nos sentamos a dar-lhe mimos e que se mete no nosso caminho quando chegamos a casa, de boneca na boca, para brincarmos com ele. É o animal que destrói as camas que lhe compramos e tem medo dos brinquedos que lhe damos com som. É aquele que nos afaga as lágrimas quando estamos tristes e nos desafia quando o nosso espírito se encontra em dias negros. É aquele que nos faz chorar de tanto rir quando levanta as orelhas ou quando se arrasta pelo chão, com preguiça de andar.Que muda o nosso dia - que o torna mais luminoso e feliz, mais alegre e doce. É aquele que nos faz ter medo - medo da doença, da fuga, da perda.