14 de abril de 2016
Era de noite quando começaste a dar sinais de que algo estava para acontecer. Por volta das dez e pouco, vi uma grande bolha sair de dentro de ti. Suspeitei logo que estavas prestes a dar à luz, mesmo que no dia anterior ainda restassem dúvidas de que tinhas gatinhos dentro de ti.
Saí da sala e chorei. Temi o pior. Estás doente e velhinha, tive medo que não aguentasses. E se aguentasses, coloquei a hipótese de não o conseguires amamentar. Depois de nascer o primeiro, receei que fosse o primeiro de outros. O primeiro de muitos. Mas não, tiveste só um, felizmente - a natureza raramente falha.
A mãe disse logo que ficaríamos com ele. Não hás-de durar muitos mais anos e não poderíamos tirar-te a alegria de ter um bebé, ainda por cima quando vimos todo o cuidado com que o acolheste mal ele nasceu. Começaste logo a amamenta-lo mesmo que isso possa ser incómodo para ti (apesar de não sabermos se os teus tumores mamários te poderão, ou não, causar algum incómodo). Tens sido uma mãe extremosa que me enche de orgulho. Uma mãe velhinha, mas presente. Doente, mas lutadora. Parece que se vê em ti uma felicidade diferente. Andas mais esperta e aparentas uma tranquilidade e saúde que, se calhar, nem tens.
Temos andado todos preocupados contigo, mas temos aprendido ainda mais com aquilo que nos tens ensinado. És uma heroína, uma resistente. E na quinta-feira, provaste o quanto és capaz. Aumentaste a nossa família, que também é a tua. Fizeste-nos fazer figas para que tudo corra pelo melhor.
Cá em casa, uma coisa nunca acontece só e a preocupação com vocês, com os nossos queridos animais amigos, tem sido constante. A White anda com uma hemorragia que não conseguimos decifrar, apesar da veterinária considerar que não há grandes motivos de alarme graças à ausência de febre e à estabilidade das mucosas e do batimento cardíaco. Mas cada dia a nossa preocupação aumenta – e já sabemos que temos de ir ao veterinário, para conseguir um descanso total.
E agora tu, minha Rufia velhota… Como pude pensar que não resistirias a mais esta travessia no deserto? Agora, que te vejo deitada no meio dos cobertores com a tua cria, penso que desvalorizamos, vezes demais, a força do amor e a potência do coração. És uma velhota que nos enche de orgulho. Um mãe que nos enche os olhos de lágrimas e uma companheira fiel e constante que aquece o nosso coração. O Lucky tem a maior sorte do mundo em ter-te como mãe, mas acredita, ele também tem a maior sorte do mundo em ter-nos como família.
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O Lucky é, literalmente, um sortudo.