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Precisei de algum tempo para digerir esta notícia: pouco tempo para controlar a revolta que sinto e demasiado tempo para demonstrar a minha indignação. Devo desde já dizer que este não é um texto de palavras bonitas ou preocupações literárias. É um grito do coração, um desabafo de mágoa, angústia e revolta. É resultado de uma tempestade interior, de uma incredulidade tremenda.
Hoje foi mais um dia triste. Despedi-me da minha Amélie, mais de uma semana depois de um imenso sofrimento.
Estou numa dor inexplicável por palavras, que aguardo que o tempo acalme, apesar de neste momento isso não me parecer possível.
A minha Amelie era tão alegre, tão cheia de vida, feliz e saudável. Adorava rodopiar sobre si própria logo pela manhã, como se estivesse a dançar, a celebrar a vida. Adorava que eu lhe dissesse que era linda: "quem é a mais linda do meu coração"?. E eu dizia-lhe tantas e tantas vezes.
No dia 1 de abril, deixei a minha princesa no Hospital Veterinário Vasco da Gama, na zona norte da Expo, para fazer uma destartarização, uma comum limpeza dos dentes. Antes de ser intervencionada, ela tinha feito análises na mesma clinica e foi-me dito pela veterinária que a Amélie estava óptima de saúde. Não era surpresa para mim, a Amélie era muito bem cuidada. Depois de a entregar à veterinária Susana Vitor, que fez a intervenção, saí descansada da clínica. O primeiro momento em que fiquei apreensiva foi quando adiaram das 17 para as 19 a hora de a ir buscar. A esta hora, quando me deram a Amélie, vi logo que ela estava em sofrimento, com dificuldade em respirar. Foi-me dito que era normal e que os sons aflitivos seriam devido a um tudo que lhe tinham enfiado pela garganta. Questionei se não deveria ficar em observação , foi-me dito que não era necessário! Achei estranho mas acreditei, não tinha razão para não acreditar, afinal ela é que era a veterinária.
Levei a Amélie para casa muito angustiada com o estado em que a via. Em casa, a aflição da Amélie em respirar continuava. Deitei-me ao seu lado a dar muitas festivas e beijinhos e a conversar com ela, dizendo que ia ficar tudo bem: " vai passar meu amor, agora custa um bocadinho mas vai passar".
Passado duas horas e meia, a Amélie estava exactamente igual, o mesmo sofrimento e os mesmo sons (horríveis) a tentar respirar.
Aflita, liguei para o hospital e falei com a veterinária que a tinha tratado e voltei a repetir o estado de sofrimento da Amélie. Coloquei o telefone em alta voz para que a dr.ª Suana Vitor pudesse ouvir. De novo me foi dito que era tudo normal e que eu não devia fazer nada. Insisti que era melhor verem de novo a Amélie no hospital mas a médica , sorrindo do outro lado da linha, disse que me acalmasse, que não era preciso levá-la ao Hospital, tudo era normal - naquela atura só queria aliviar o sofrimento dela que eu pensava ser das dores na garganta provocadas pelo tubo, nunca me passou pela cabeça que a Amélie estivesse a correr perigo de vida. Eu acreditei na veterinária, aceitei de boa-fé as indicações da médica. A sua descontração ao telefone era tanta que até pensei que era eu que estava a exagerar de tão zelosa que era com a minha menina.
A Amélie não dormiu um minuto sequer e o seu estado de sofrimento manteve-se sempre igual, desde que saiu da clínica. Com o avançar da madrugada e cada vez mais angustiada voltei a ligar para o hospital. Era já outro médico de serviço, descrevi tudo o que tinha antes descrito à dr.ª Susana Vítor e pedi ajuda. Este veterinário disse-me para ir de imediato para o hospital. A minha Amélie percebia tudo, nesse momento, encostou-se a mim a pedir-me mimo, deu-me um ultimo beijo, o único da noite, não por falta de vontade mas porque provavelmente as dores não lhe permitiam.
Eu abracei-a e prometi que tudo ia ficar bem, que íamos ao hospital e que ela ia ficar bem. Quando nos estávamos a preparar para sair, a Amélie foi beber um pouco de água e, de repente, em segundos, e sem que nada fizesse prever este desfecho, caiu para o lado no chão da cozinha, a deitar muito sangue pela boca. Entrei em pânico, agarrei nela e fui para o hospital. Já aqui, onde ainda entrou a respirar, o médico que me tinha atendido o telefone diz-me pouco depois que a tentou reanimar mas não conseguiu. Fiquei sem chão, meu mundo desabou, deixei de ver e de ouvir. Nas seis horas que se seguiram não sai da clinica a pedir para falar com alguém. Precisava de uma explicação. Pedi para falar com o director, disseram-me que estava a passar o fim de semana fora de lisboa. Pedi para falar com a veterinária que lhe fez a intervenção, disseram-me que ela não trabalhava ao fim de semana.
E eu fiquei ali perdida, horas, sem saber o que fazer, sem chão...
Seis horas depois, já com a ajuda da minha família, decidi tirar a minha Amélie da clínica, onde senti que não nos estavam a tratar com dignidade. Tenho o coração partido e continuo sem saber o que aconteceu. Até hoje não recebi nenhum contacto, nem do administrador da clínica, Bruno Oliveira, nem da veterinária. Eu só queria perceber porque e como é que a minha Amélie entrou saudável para fazer uma limpeza aos dentes e acabou por morrer. Para mim, os animais são e devem ser tratados com respeito e dignidade. São, e a Amélie era, um membro da família.
A Amélie era a minha menina...E por ela e por todos os animais que por vezes são tratados de uma maneira menos digna espero fazer justiça.
Meu amor, vai em paz. Dá-me forças para viver sem o teu amor incondicional, sem te ter mais na minha vida.
Obrigada por me teres feito tão feliz.
- Maria João Bastos
Consegui, com este comunicado, sentir a dor da Maria João Bastos – talvez por partilhar com ela o amor imenso que tenho pelo meu cão – aliás, pelos meus animais no geral.
Isto só comprova o quanto o nosso instinto raramente nos engana e quase, quase sempre, se tivermos o apoio das entidades competentes, nos pode levar ao caminho certo.
Para mim animais são pessoas. Aliás, há animais melhores que muitas pessoas e, quem um dia determinou que nós devíamos ser superiores a eles não conhece os animais que eu conheço e, acima de tudo, não conhece certas pessoas que eu conheço ou conheci em alguma fase da minha vida.
Amo os meus animais como amo a minha família - com um amor que as palavras não conseguem descrever, que os atos não conseguem mostrar, que o coração não se cansa de sentir. O meu cão é um companheiro incrível e talvez por isso não consigo imaginar-me na posição desta conhecida atriz portuguesa - acho que nenhum discernimento ou controlo conseguiria parar o meu desespero e sentimento de injustiça. Nenhuma educação seria capaz de me deter. Nenhuma racionalidade nos pode calar quando o que sentimos nos grita ao ouvido.
À veterinária que tratou da Amélie, só tenho a dizer: desista, Sr.ª Doutora. Desista de trabalhar pelo dinheiro, porque o coração, já se viu, não é o seu guia. Desista de acreditar nas suas certezas e passe a aceitar mais os pressentimentos dos donos, mas, acima de tudo, dos amigos. Desista de estar numa profissão que certamente não lhe compete, não se adequa. Desista de fazer um trabalho que não sabe dignificar e de lidar com animais a quem não consegue dar mais do que tratamentos - não consegue dar amor, cuidado, protecção. Todos nós erramos. Os médicos erram. Os veterinários também têm esse direito - só não têm o direito de se manterem passivos perante o erro e insensíveis perante a preocupação de uma dona que ama o seu cão e de uma mulher que se preocupa com o seu companheiro fiel. Erros todos cometem, mas todos temos o dever de fazer por os corrigir ou, pelo menos, por minimizá-los. Você, Sr.ª Doutora, não o quis corrigir, não quis sequer tentar. Desvalorizou o pedido de socorro sincero e real , que certamente estava mais correto que as matérias de anatomia e medicina animal decoradas que guarda no seu reportório mental. Desvalorizou a ligação e os laços firmes que ali existiam e que, certamente, você nunca conheceu ou sentiu. Nunca experienciou. Não sabe sequer o que são.
Mas eu sei, Sr.ª Doutora, e talvez por isso a sua falsa certeza me revolte tanto. Porque independentemente da confiança que temos nas nossas capacidades e no nosso trabalho, devemos acreditar também que podemos falhar. É da nossa natureza falhar. Mas podemos reparar determinadas falhas. Falhas essas que você não quis superar.
E agora? A sua consciência pesa menos do que a que deve pesar a um médico que negligencia o seu doente e o faz perder a vida?
Se bem que aqui há uma diferença - não havia doente. Havia um animal saudável que você fez questão de deixar morrer.
Só gostava de saber se alguma parte de si morreu também.
Dia dos Irmãos. Teu dia. Nosso dia.
Somos tão diferentes que já ponderei, até, a hipótese de ser adotada (visto que a ti, te vi crescer dentro da barriga enorme da mãe!). Se não nos conhecesse tão de perto e não soubesse que somos sangue do mesmo sangue, diria que somos verdadeiros opostos, com educações completamente distintas. Talvez seja esse o motivo para andarmos sempre às "turras", mas também pode ser essa a razão para eu te amar de forma tão exagerada (mesmo que nunca o demonstre e que os meus gritos, por vezes histéricos, pareçam comprovar o contrário). És, sem sombra de dúvida, a pessoa que eu mais amo na minha vida e aquela por quem morreria sem pensar duas vezes. Mas és também aquela que eu mais chateio, que mais provoco, que mais tramo e de quem mais exijo. Amo-te tanto. Mas ás vezes, irritas-me tanto também,
- quando passo pelo teu quarto e vejo que ele não está arrumado;
- quando não arrumas a prancha do cabelo;
- quando demoras mais a vestir-te que eu a vestir-me, a pentear-me, a maquilhar-me;
- quando te chamo e só apareces meia hora depois;
- quando deixas iogurtes no meu quarto;
- quando me ofereces comida boa quando sabes que estou de dieta;
- quando passas horas na casa de banho e estou à espera para tomar banho;
- quando não tomas a iniciativa de fazer as tarefas domésticas;
Mas tudo isto são apenas pequenos pormenores que escapam da imensidão do amor que sinto por ti. Da proteção que tento dar-te. Do exemplo que tento transmitir-te e da determinação, coragem e incentivo que quero que sintas da minha parte. A diferença de idades que nos separa dificulta a nossa relação, mas intensifica, de forma proporcional, a preocupação que sinto contigo. Não consigo desligar-me do papel de "mãe" e ser simplesmente a irmã mais velha, companheira, confidente, conselheira. Infelizmente, sinto uma responsabilidade sobre e por ti que não me permite adotar esta postura de "amigaça". E peço-te desculpa por isso. Por saber que era isso que deveria ser. E que isso é tudo o que eu não sou.
No entanto, o importante é que saibas que estou aqui com um amor infindável dentro do meu coração, que só e apenas sinto por ti. Que daria voltas ao mundo as vezes que fossem precisas para te dar o que for preciso. Que negaria todas as riquezas para te dar o melhor. Que te amo de uma maneira que só tu sabes fazer-me amar-te.
Obrigada por encheres esta casa de luz, mesmo nas horas infinitas que passas fechada no quarto.
Obrigada por não me fazeres ser filha única, mesmo quando quase te fazes esquecer e pareces nem estar em casa.
Obrigada por me fazeres ter alguém com quem discutir e extravasar todas as más energias.
Obrigada pelo carinho, pela preocupaçao, pela tolerância.
E desculpa a péssima irmã que sou ás vezes.
Amo-te. Mais que tudo. Que todos. Mais do que sei dizer.
Hoje recebi uma triste notícia. Faleceu o pai de uma colega – colega essa que, apesar de não ser muito próxima agora, percorreu comigo 9 anos de ensino. 9 anos de crescimento, de momentos que nos fizeram passar de meninas a mulheres. 9 anos que nos afastaram e fez cada uma de nós e cada um de nós, colegas, seguir o seu caminho.
Mas ao fim de 8 anos, estamos novamente juntas – juntas na tristeza, na solidariedade e na percepção da pequenez que reveste este nosso caminho. Talvez seja essa a ligação que me faz, hoje, sentir solidária contigo e colocar-me, em certa parte, no teu lugar.
A dor de perder um pai deve ser indescritível. Graças a Deus não a conheço. Mas sei que agora tu, querida Daniela, sabes melhor que ninguém o que isso é. E estou triste – triste contigo e por ti, porque sei que também ainda querias viver na ignorância e desconhecer essa mágoa que também eu ainda desconheço. Imagino que, por vezes, o sofrimento das pessoas em vida pode até causar alívio quando elas partem. Sei, desde aquela vez que te encontrei no comboio, a preocupação em que vivias. Soube, desde aí, o quanto o teu coração devia estar apertado.
Mas sei que a amargura da injustiça, da brevidade da vida, a intensidade das saudades e a tristeza da ausência consegue ser superior a qualquer conforto provocado pela certeza do descanso eterno. Sei que, neste momento, te pode parecer que essa ferida nunca vai fechar – não sei o que é perder um pai, felizmente o meu ainda está comigo, mas sei o que é ver morrer uma avó que, para mim, foi quase a mesma coisa. Sei o quanto pode ser revoltante ver que o mundo não para e que as pessoas seguem as suas vidas mesmo quando a nossa parece paralisar. Sei que nos apetece fazer perguntas, dar gritos, obter justificações divinas. Sei que sentimos que não merecíamos, que não esperávamos. Sei que a esperança que mantivemos até ao último segundo, cai no chão e se parte em mil pedaços. Sei que queremos voltar atrás em tantos momentos, pedir desculpa por tantas coisas, aproveitar melhor tantos dias e ser melhores, mais presentes, mais pacientes, mais compreensivas. Sei que parece que a cicatriz vai sempre ser enorme, demasiado exposta e impossível de disfarçar. Mas também sei, minha querida, que ela não desaparece, mas diminui. O tempo é um bom curativo, acredita em mim. E acima de tudo, acredita nele. Deixa que as lágrimas caiam enquanto fizerem força para cair. Deixa que elas sequem, quando o passar dos dias assim permitirem. Mas deixa, fundamentalmente, que a tua vida não acabe, por muito que te possa parecer descabido fazê-la continuar. Deixa-te viver esta infelicidade, mas permite-te,a seguir, encontrar forças para te voltares a sentir feliz. Ele quereria isso e tu deves fazê-lo com toda a força, não só por ti, por ele, mas por todos os que ficam. E que merecem continuar. Com força, motivação, paz e união, dando-lhe motivos para sentir orgulho. Porque de uma coisa eu tenho a certeza: o orgulho não morre, ele vive mesmo na dor da distância e no gelo da ausência.
Muita força. Coragem. Determinação e amor.
Um beijinho e um abraço apertado.
É incrível como os dias de sol nos fazem significativamente mais felizes. Acordar com raios dourados a entrar pela janela do quarto logo às sete e meia da manhã, é automaticamente motivo de boa disposição. Assim, não custa saltar da cama, tomar um bom pequeno almoço e ir para o trabalho. Não custa encarar o dia com um sorriso na cara. Não custa fazer as tarefas domésticas de janelas abertas e com a luz natural. Não custa cortar a relva do jardim e fazer caminhadas de uma hora com a mãe. Até a motivação para a manutenção do estilo de vida saudável é maior - o sol faz-nos lembrar o verão, os dias de calor, as férias e a praia. E recorda-nos o quanto não queremos manter os complexos do nosso corpo e o quanto só depende de nós contornar essa situação.