Isto de ser um (bocadinho) professora
Sim - um bocadinho - porque, na realidade, ser professora envolve muito mais do que aquilo que alguma vez aprendi e muitas competências sobre as quais ainda pouco adquiri.
Professoras a sério são aquelas que tenho tido oportunidade de conhecer de há dois meses para cá.
Isto de lidar com crianças nem sempre é fácil e percebo isso agora, que tenho a primeira experiência dentro deste âmbito. Há dias em que desesperamos, em que não temos o controlo, em que nos sentimos frustrados e inseguros, duvidando das nossas capacidades. Há dias em que perdemos a paciência e em que nos questionamos que tipo de crianças são aquelas com as quais estamos a lidar. Mas depois, no meio destes dias, paramos para pensar e chegamos à conclusão que são apenas isso - crianças - com uma história por trás, mais ou menos delicada, com uma realidade mais ou menos dura. E é quando paro para pensar sobre isso que ganho ainda mais determinação para continuar a dar o melhor que sei, mesmo quando o meu melhor parece tão insuficiente. Desde que embarquei nesta aventura, há cerca de dois meses atrás, já gritei mais do que na minha vida toda, quase já fiquei sem voz, já dei dezenas de beijinhos, já abracei mais que isso também, já consolei lágrimas e já fiz festinhas mágicas para as dores de barriga. Já fui ouvinte e conselheira. Já fui a má da fita e olhada de lado. Também já ouvi de tudo: "professora, as tuas aulas são uma seca, não fazemos nada divertido. Ainda bem que só faltam dez minutos para acabar.", "professora, estás muito linda hoje" , "professora, a tua camisola e a camisa são cosidas ou separadas?", "professora, gosto muito de ti", "professora, és a melhor do mundo"...
E tudo o que ouvi me fez crescer, sentir, amadurecer e lutar para ser mais e melhor. É impossível agradar a todos - e não só relativamente às crianças, mas em relação a tudo na vida - mas é possível tentarmos sempre trabalhar no sentido de sermos sempre mais significativos para aqueles que se cruzam no nosso caminho, cativando a atenção e o afeto daqueles com quem partilhamos os dias. Sem nunca deixarmos de sermos nós próprios e sem nunca fugirmos à nossa essência, o que importa é sentirmos que podemos fazer a diferença - mesmo que nem sempre a consigamos fazer.