"as meninas virgens são para ser violadas" ?!
Hoje o facebook informou-me que era Dia Internacional da Rapariga.
Ironia do destino, pensei eu.
O dia da Rapariga calha precisamente num dia em que as notícias são inundadas com a cara e o discurso de alguém que afirma que "as meninas virgens são para ser violadas" e de um possível presidente que, segundo se diz, insulta mulheres e categoriza-as pela sua aparência.
Este discurso do (agora conhecido) taxista, que é um dos últimos atentados à integridade da jovem mulher, leva-me a pensar... Quantas serão, a partir de hoje, as jovens que, depois de ouvirem tal afirmação, arriscarão colocar-se dentro de um taxi, sozinhas, com pleno descanso no coração? E será justo ser tirada, indirectamente depois desta frase trágica, a liberdade a uma jovem de poder usufruir, livremente e sem medos, de um meio de transporte? Será justo e igualitário que, a partir de hoje, as mulheres passem a temer mais que os homens? Será justo que as raparigas passem a andar mais quilómetros para apanhar o metro em vez do táxi, pelo medo do que lhe possa acontecer? Será justo, atualmente, que uma rapariga seja obrigada a temer o simples facto de não ter nascido homem?
Hoje, no dia da Rapariga, há certamente muitas que decidem que não mais andarão de táxi. Como há muitas jovens mulheres que temem caminhar à noite sozinhas. Da mesma forma que há, também, muitas que vivem condicionadas pelo patrão e pelas suas investidas sexuais ás quais teme pôr limite, por medo do despedimento. Neste dia da Rapariga ainda existem jovens agredidas pelos namorados, condicionadas na sua forma de vestir e limitadas relativamente às profissões a que podem ter acesso.
Neste dia da Rapariga, a 11 de outubro de 2016, ainda é, sobretudo, o dia do rapaz.
E enquanto a sociedade achar, por exemplo, que uma rapariga que se envolva com muitos homens é uma p*** e um rapaz que se envolva com muitas mulheres é um garanhão, o nosso mundo está perdido. O mundo das raparigas está perdido. E elas, perdem-se no meio dele.