Luísa
Há dias em que o fato de não estares aqui dói demais e em que a tua memória me ataca como flechas direcionadas ao coração. Não que doa lembrar-me de ti, dói sim lembrar-me sem te ter aqui. A dor das memórias é essa mesmo: a consciência de que são só memórias, desligadas do apoio da presença física ou do aconchego do olhar. A mágoa da tua partida é saber que embarcaste numa viagem sem regresso, onde só por forças superiores te poderei, um dia, visitar. Cada dia superado, sem te ter por perto, é para mim uma pequena vitória interior a um sofrimento a que um dia pensei não resistir. Hoje acredito que me dás força, que me guias e orientas, que me ajudas a escolher e me segredas ao ouvido a melhor solução para as decisões mais difíceis. Acredito e tenho fé de que o que temos e somos não acaba aqui – aliás, é grande de mais para ter um fim. Sei que olhas por mim, e sei-o porque só essa pode ser a razão para continuar nesta luta e conseguir ir sendo feliz mesmo com uma distância como a nossa, que tanto pesa no peito. Sei que estás ao meu lado dia-a-dia porque te sinto – sinto-te comigo quando penso em ti antes de dormir e sinto-te ainda mais quando estou em aflição, quando quero desistir, quando me aborreço, quando perco a paciência, quando entro em desespero (e tu, melhor que ninguém, sabes o quanto o verbo desesperar é, para mim, tão fácil de conjugar). Dei quase o meu melhor enquanto partilhaste este mundo comigo. E digo (só) quase porque hoje sei que teria evitado as discussões, as chatices, os amuos e teria substituído tudo isso por abraços, por carinhos e por muitos mais “Amo-te’s”. Mas eu sei que tu sabes o quanto eu te amava, o quanto ainda te amo e o quanto te vou amar sempre. Éramos demasiado iguais para vivermos sempre em plena harmonia, mas suficientemente diferentes para nos surpreendermos uma com a outra todos os dias. Não gosto de falar de ti assim, no passado, porque ainda vives em mim e comigo no presente, mas por vezes ainda preciso de me convencer a mim mesma de que já não estás entre nós. Sei que, nesse céu do qual agora certamente és dona, consegues imaginar o quanto me custa estar sem ti. Tu, melhor e mais que qualquer outra pessoa, sabes o que é a tristeza profunda de perder alguém – em vida, tiveste que dizer Adeus não só aos teus pais, mas a todos os teus irmãos e a muitas outras pessoas que te eram queridas. A minha grande ambição é, mesmo no meio desta angústia com que a nossa distância invadiu a minha vida, ser capaz de te encher de orgulho. E só lamento que não estejas comigo em todas as celebrações de todos esses motivos que te possam fazer sentir orgulhosa da neta que sou e serei – a minha formatura, o meu primeiro emprego, o meu casamento e até quem sabe, o nascimento dos meus filhos. Confesso que tudo perde um pouco o sentido sem te ter aqui a torcer por mim, para ver o brilho dos teus olhos com os meus sucessos e o rasgar do teu sorriso com cada pequeno objetivo alcançado. Sinto tanto a tua falta. Fazes-me tanta falta – faz-me falta levar-te às compras, ir lanchar contigo, levar-te aos correios, à farmácia. Faz-me falta o chocolate da Nestlé que tu me compravas… E posso garantir-te avó, esse chocolate nunca mais teve o mesmo sabor.
Assim como ser feliz nunca mais teve a mesma intensidade, como sorrir nunca mais teve a mesma veracidade e a assim como amar-te incondicionalmente nunca teve tanta verdade.
p.s – Este texto era só para ser publicado no dia 15, dia do teu aniversário… Mas há palavras que não podem ficar guardadas no tempo e sentimentos que têm que ser explorados assim que saem do coração. Não precisas de fazer anos para saberes que eu te amo… Porque eu amo-te sempre, sem lugar, hora ou data.