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A Neta da Luísa

A Neta da Luísa chama-se Bárbara. Tem 23 anos e um gosto incalculável pela escrita, moda, lifestyle e beleza. Não é uma expert em nenhum dos assuntos, mas tem uma paixão imensa por todos eles.

A Neta da Luísa

Quando não ter emprego é quase o mesmo que não ter sonhos

Já lá vão dois meses desde que comecei a minha procura de emprego. Dois meses de muitas perguntas e poucas respostas. 

 

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Estar em casa é talvez dos fatores que mais nos pode paralisar. A falta de rotinas de trabalho, a ausência de pessoas para conviver, a necessidade de troca de opiniões e comentários e até a inexistência de algo para contar ao fim do dia é algo muito, mas mesmo muito desmotivador. Quando tirei o meu curso, desvalorizava todos os relatos sobre a dificuldade em encontrar trabalho. Achava que, se fossemos bons, não iriamos ter grandes dificuldades. Acreditava que, pelo menos o estágio profissional, seria uma oportunidade garantida. 

Dois meses depois não existem perspetivas de emprego nem de estágio. A ausência destas oportunidades vão matando, aos poucos, todas as outras perspetivas que lhes estão associadas - independência, autonomia, crescimento e sucesso. Cada dia é mais um dia de uma espera demorada e inglória. De uma esperança que acaba morta a cada e-mail não recebido ou a cada chamada que não recebemos. Sentimos que temos a vida em stand-by e que nada podemos fazer enquanto não brilhar, sobre nós, a nossa estrelinha da sorte - porque a parte que dependia de nós, já está feita. E agora depende de outro alguém que nem sabe que existimos. 

Hoje em dia, procuramos por um emprego como quem pede um favor. Não somos vistos como membro úteis que devem ser pagos pelo seu trabalho, como potenciais recursos valiosos, mas sim como alguém que faz perder demasiado tempo enquanto precisa de aprender. Não somos vistos como mentes frescas e inovadoras, mas como membros inexperientes e inadequados. Somos percecionados como mais alguém que pertence a todo aquele enorme grupo que procura oportunidades que demoram demasiado a ser reconhecidas. Somos um grupo onde a nossa individualidade é dificilmente notada e onde a nossa força custa a ser demonstrada. Aprendemos a lutar, mas quase nem nos conferem a possibilidade de entrar na batalha. Ensinam-nos a não desistir, mas quase nos amputam os membros que nos impedem de continuar. Dizem-nos que a nossa vez chegará... Mas ela parece-nos sempre tão longe. 

Dizem-me que ainda é cedo. Que passou pouco tempo. Mas aquilo que para outros é pouco, para mim é já uma imensidão de dias, com horas a mais, repletos de um sentimento de inutilidade e fraqueza imenso. Quem nunca passou por isto, não sabe o quanto dói que não nos permitam aprender, evoluir, crescer e dar provas. Não sabe o quanto dói ver que os dias que passam por nós são todos iguais. Que as tarefas domésticas se repetem semanalmente e que o tempo livre em frente ao computador, abrindo e fechando incansavelmente sites de emprego, deixam de ser produtivos e prazerosos. Quem nunca vivenciou esta realidade, não conhece a sensação que paira de termos, obrigatoriamente, de colocar a nossa vida em pausa. E de termos de esperar por uma oportunidade - por uma oportunidade que queremos provar que merecemos - para voltar a fazer play. É triste que nos adiem os sonhos. E é mais triste ainda quando nos vemos a perder a capacidade de sonhar.

 

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